O ano era 1977. Ainda
menino, quase um rapaz, tive o privilégio de conhecer pessoalmente o mestre
Hayashi Kawamura. Era uma tarde de uma segunda-feira. O meu professor de karatê
era aluno do sensei Kawamura e me deu esse presente: levar-me a conhecer o
mestre. O meu professor estava se aquecendo, junto com todos os outros alunos,
quando o mestre entrou no salão. Todos, unanimemente, em um só momento,
saudaram-no com o cumprimento: “Oss!”. Ele, o mestre, curvou-se também e nos
cumprimentou (digo nos cumprimentou, pois aproveitei a oportunidade e me curvei
com todos, não podia perder esse privilégio). Eu estava sentado num banco ao
lado assistindo o treino. Estava diante de um mito e também a pessoa mais
honrada e mencionada pelo meu professor em todas as suas aulas. Não parei de fitá-lo
a todo o instante durante toda a aula. Ele com o bastão e com a mão corrigia a
cada um dos seus alunos, com um leve riso de prazer e muita consideração no
olhar. Sensei Kawamura estava ali em minha frente e era justamente aquela
pessoa que o meu professor tanto admirava e nos ensinou a admirar.
Havia um detalhe que devo mencionar: o mestre sabia que
éramos da Zona Norte (subúrbio da cidade) e o meu professor treinava sem pagar mensalidades,
pois o mestre sabia que ele era carente e não tinha condições para isso.
Passado esse primeiro contato, sempre que podia eu ia assistir às aulas do
mestre. Ficava no mesmo banquinho, ao lado, sentado. Porém, a emoção é como se
estivesse treinando entre os alunos dele. No mês de maio, me submeti, nesse
mesmo ano, a um exame de faixa. O examinador: mestre Kawamura. O local de
exame: a sua associação. A emoção tomava conta de todos. Fiquei temeroso de
cometer erros. O meu professor percebeu o nosso temor e passou a nos tranquilizar.
No final do exame, o mestre chamou-me à frente e disse: “Você menino muito bom!
Muito bom mesmo! É aluno de Fulano, não?!” Então o meu professor tomou a
dianteira e disse: “Não, sensei. Ele é meu aluno!” A alegria tomou conta de
nós, os meninos da Zona Norte, que foram prestar exame de faixa diante tão
grande autoridade em artes marciais e, sem esperar, recebemos esse elogio como
um grande prêmio e incentivo para o resto de nossas vidas. Até hoje, um grande
número de nós, continua a estudar e praticar o karatê, mesmo sem o privilégio
de estar no dia-a-dia junto com esse mestre. Apesar de tantos anos nos separar
daquele dia, guardo as lembranças, cada momento, e as palavras de incentivo e
de sabedoria ministradas por ele. Se hoje alguém me perguntar: “a emoção e a
vontade de aprender passaram?”, eu diria: “não!” Mesmo sabendo que o tempo
passou, continuo estudando e pesquisando sobre o esporte como se o incentivo e
as palavras do mestre Kawamura estivessem sendo faladas comigo a cada manhã.